sábado, 21 de maio de 2011

“Sê charmosa e cala-te!”

Baudelaire defendia que a sedução deriva do verbo ser. Dispensa palavreado. Para quê, quando o corpo aprende a “dizer” o que quer? As palavras sobram quando um olhar, um sorriso ou um gesto são, por si só, capazes de despertar interesse e desejo. Os especialistas confirmam que é o corpo que dá rédea ao impulso de conquistar e afirmam que são as mulheres as peritas na matéria. A manipulação dos braços e das mãos, os risos por tudo e por nada, o mexer nos cabelos e na roupa podem ser alguns dos sinais. Atitudes que levam à certa o mais empedernido dos corações. Mas será o charme inato ou estará ao alcance de qualquer um? Recolhi opiniões. Procurei perceber com que trunfos se aposta neste jogo que, segundo Roger Woddis, os homens jogam mas são as mulheres que sabem o resultado.

Pelos escaparates pulula literatura sobre a matéria. Autênticos manuais sobre como agradar, conquistar, engatar. Para ambos os sexos. Uns defendem que a mulher é mais arteira, que privilegia o romance e o jogo da conquista, enquanto que o homem gosta mesmo é de um bom par de pernas e seios voluptuosos. Os mais enciclopédicos afirmam tratar-se de mero instinto animal com vista à reprodução. Na falta de conclusões satisfatórias e consensuais, peguei na máquina fotográfica e dispus-me a ir para a rua saber o que pensa o comum dos mortais sobre a arte de seduzir. A primeira abordagem correu mal. Apontei flash aos olhos de um arrumador de carros que, em jeito de ameaça, atirou: “Diga lá o que quer”. Mas eu sei que ele pensou qualquer coisa do tipo: “Olha-me esta gaja armada às entrevistas”. Com visível embaraço acabei por lhe dizer ao que ia. Num sorriso desdentado, despacha-me virando as costas: “Engate? Isso é coisa de putas. Tá a bater na porta errada”. E sumiu-se.
A coisa parecia mais complicada do que imaginei à partida. Constatei que se trata de um assunto delicado, ao qual muitos preferem esquivar-se: “Estou cheio de pressa”, “Não percebo nada disso”, “Seduzir? Isso já não se usa”.
Em suma, restou-me bater à porta de conhecidos e arrancar-lhes, quase a ferros, o que sabem do assunto. Ladearam, acabando por desviar para os afectos, a ternura, o amor e o casamento... Eu insistia: “E o que é que isso tem a ver com sedução?” A resposta possível encontrei-a nas palavras de Henry Youngman: “Sabes o que significa chegar a casa à noite, para uma esposa sedutora que te dá um pouco de amor, de afecto, de ternura? Significa que te encontras na casa errada”.