quinta-feira, 16 de julho de 2009

ESSE GRANDE SENHOR DA COMÉDIA!

Alexandrino Firme e Hirto
A entrevista possível a esse grande senhor da comédia!


Data da entrevista: 2000
Quem: Alexandrino
Idade: 56 anos (na altura da entrevista)
Pretexto: Descobrir de que planeta é oriundo
Actividade Desenvolvida: Bruxo, participação em feiras do oculto, três livros não publicados por falta de quem nele acredite
Imagem: estrela pontual no programa Herman Sic
Característica durante a entrevista: tentativa falhada de me hipnotizar

- Apareceu nos ecrãs de televisão como hipnotizador. Acabou por gorar expectativas nessa área mas revelou-se um animador de plateias. Afinal, quem é Alexandrino?
- Sou um artista plástico que descende da família de uns Faria de Castro que foram vice-reis da Índia. Tenho uma formação cultural muito rica porque meu pai - que era o Joaquim da Autopasse, especialista em Cadilacs - gostava de me levar a ver os museus. Veja lá a minha estaleca.
- Afirma-se também como escritor, embora sem obra publicada...
- Já escrevi três livros. Estão à espera. Um deles chama-se “Acreditar Não é Saber” e tem a ver com o fundamento de como se chega ao domínio da mente objectiva sobre a mente subjectiva. Tenho um outro que conta histórias das minhas intimidades e fugas das prisões.
- Esteve preso?
- Estive oito dias preso, juntamente com o Duque de Palmela.
- De facto, em Setembro de 95 o jornal “A Capital” deu conta da greve de fome que levou a cabo em frente ao edifício da RTP. Qual era a sua causa?
- Protestava e ainda protesto contra o estímulo ao comportamento acreditar. Defendo que não devemos acreditar em ninguém. E sabe porquê? Por causa de um desgosto. Vivi com uma fulana que me deixou num fim-de-semana. Desiludido, bebi umas garrafas de vinho para pôr termo à vida... E essa não seria a primeira vez que estive disposto a matar-me. Pensei nisso quando me chamaram para a tropa. Avisei os tipos que jamais pegaria numa arma mas eles tentaram endrominar-me e não havia meio de me mandarem embora. Então resolvi suicidar-me com uma tuberculose. Ia às putas todos os dias a ver se pegava a doença.
- Como e quando começou a dedicar-se à hipnose?
- Não fui eu que descobri o meu dom. Tenho uma loja de loiças e vidros na Pixeleira, num sítio que faz cantinho. Os prédios vão assim ao longo da rua e depois faz uma esquina. Está a ver? É aí mesmo. Um dia estava à porta da loja entretido a esgalhar a pintura de uma peça e eis que alguém me chamou a atenção para o facto de estar uma menina estática, há horas, à minha frente. Tinha-a hipnotizado e não sabia. Quem me esclareceu foi um engenheiro, que mora dois prédios abaixo e que se dedica ao ocultismo, para além de dar explicações de matemática e arranjar televisões. Foi ele que me deu um livro sobre o assunto. Consigo hipnotizar até de costas. Envolvo as pessoas até dois metros de distância.
- No entanto, nas suas aparições em televisão nunca conseguiu hipnotizar ninguém...
- Quando as câmaras não estavam a filmar consegui hipnotizar dois tipos que levei comigo para o programa do Herman.
- Mas se já os conhecia, poder-se-á dizer que estava tudo combinado...
- Nada disso. Na véspera do programa fui ali ao café de cima e perguntei quem queria ir ao programa do Herman. Houve logo voluntários e tentei hipnotizá-los ali mesmo para ver como a coisa corria. Consegui hipnotizar quatro ou cinco mas, mesmo em cima da hora, dois deles desistiram. Os três que restaram, a troco de cinco contos, lá cederam. Mas não combinamos nada.
- Para todos os efeitos o que se passou na televisão foi um retumbante falhanço que levou muita gente a vaia-lo. Sentiu-se ridicularizado?
- Olhe, quando vou a um programa estou-me perfeitamente nas tintas se corre bem ou mal. Já nasci rico, os meus filhos são ricos por isso não preciso de ninguém para lhes assegurar o futuro. Estou-me cagando se a coisa funciona ou não, se os meus doentes acreditam em mim ou não...
- Costuma ir às feiras do oculto?
- Vou todos os anos a Vilar de Perdizes e dou um espectáculo de curas do caraças, logo a seguir ao Homem do Lacrau que também diz que cura. Bom, estou uma hora a pregar àquela malta que não podemos acreditar em ninguém, em nada, que acreditar não é saber. Depois digo-lhes: “Se querem que vos cure, venham aqui ao palco e eu trato os vossos problemas. E não é que mesmo depois de eu ter gasto o meu latim a dizer-lhes para não acreditarem em nada, mesmo assim ainda se ajoelham à espera que os trate? É preciso ser-se muito burro para cair na minha latosa...
- Quer dizer que goza com as pessoas?
- Eu estou a dar tanga às pessoas mas não gozo com elas... Tento é ir ao encontro do que elas querem ouvir. E acontecem coisas maravilhosas que no dia seguinte aparecem em tudo o que é jornal, tudo o que é revista...
- É então um oportunista que chega até às pessoas à conta de encenações hilariantes?
- Não sou nenhum oportunista nem passo atestados de palhaço a ninguém. Estou é habituado a viver a vida com um certo gozo. Gosto de rir. Os meus espectáculos são horas a rir. E eu curto isso. No fim de contas, as pessoas alguma coisa aprendem e eu também. Mas não estou nada preocupado com a imagem que traçam de mim. Eu quero é curtir.
- Então para si enganar pessoas é divertido?
- Não engano ninguém. Sou claro quanto a isso. Mas nada me impede de tirar algum gozo das coisas que faço. Por exemplo, chego a uma feira e monto uma mesinha cheia de tralha com um cartaz pendurado a dizer: “Acreditar não é saber”, seguido da tabela de preços dos meus variados produtos e serviços: cinco minutos de tarot, mil paus. Os mesmos mil por cada frasquinho de água santa vinda directamente da torneira e que cura todos os males, especialmente os que afectam o meu bolso. Anjinhos em segunda mão por dez tostões o quilo. E além da tabela, penduro avisos do tipo: “cuidado com o Espírito Santo que pode violar a tua mulher” ou “Cristo foi o resultado de uma violação”. Faço muitas coisas destas nas feiras...
- E nunca teve problemas?
- Uma vez incendiaram-me a barraca. Mas foi porque montei o estaminé mesmo ao lado de uns devotos de Nossa Senhora e tive a ideia de “descascar” a imagem da virgem, ou seja, esculpi-a toda nua. Foi uma cegada. Agora estou proibido de entrar nessas feiras.

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